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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Que história é essa de Inglês ser mais fácil?

  Bem, todo mundo já ouviu isso antes. "Inglês é mais fácil que o Português." Muitos já disseram isso, seguindo com alguma exemplificação ou justificação, como: "Não tem um monte de tempos verbais" ou "Não tem tantas regras", etc...

  Seria isso verdade? Seria uma língua mais fácil que a outra? Bem, basta para um professor pensar em quantas vezes já ouviu um aluno dizer "O Português é mais fácil!"

  Mas, vamos tentar verificar a hipótese. Pode uma língua ser mais fácil que outra? Dependendo daquilo que é analisado, a resposta pode ser sim, não ou talvez (não, não existe resposta simples. Sim, isso é possível nas ciências humanas. E talvez eu esteja sendo um pouco redundante :p)

  O Inglês, por exemplo, poderia ser considerado mais fácil por nós por já termos bem mais contato com a língua do que com outras línguas estrangeiras (que também influenciam mas não são parte tão grande do dia-a-dia). O Português, da mesma forma, pode ser considerado mais fácil por já ser conhecido. O Português de escola, de certa forma, não é mais que uma variação do Português, ainda que mais elitizada e exclusiva que o Português em geral e seja considerada por muitos pouco útil por não prover mais ferramentas ao aluno, apenas passar o preconceito linguístico pra frente. Pessoalmente, esta segunda visão me parece um pouco simplista, mas tem bases reais.

  Da mesma forma, pode se considerar esta ou aquela língua mais fácil em certos aspectos. Como a simplicidade da conjugação verbal ou das preposições ou da flexão nominal. Com isso em mente, talvez o Inglês seja mais fácil, por ter uma conjugação mais simples (só existem 4 formas verbais, presente, passado, imperativo e subjuntivo, a maioria delas sendo próximas, e mais 2 adjetivo-verbais, os particípios, havendo também pouca diferenciação numero-pessoal), pela maioria dos nomes não ter flexão de gênero, etc, etc e tal.

  Porém, este tipo de consideração pode levar profissionais da língua a simplificar demais o seu uso e ensino. Como assim? Um profissional que simplifica demais o inglês pode dizer algo como "o bom do inglês é que só se diz uma coisa quando se conhece alguém", normalmente se referindo ao "nice to meet you". Abaixo seguem 30 coisas que podem ser ditas em inglês quando se conhece alguém:

  1. Nice to meet you
  2. It is nice to meet you
  3. Nice meeting you
  4. It is nice meeting you
  5. It was nice meeting you
  6. Nice knowing you
  7. It is nice knowing you
  8. Nice to know you
  9. It is nice to know you
  10. Nice to make your acquaintance
  11. It is nice to make your acquaintance
  12. Glad to meet you
  13. I am glad to meet you
  14. Glad to make your acquaintance
  15. I am glad to make your acquaintance
  16. Glad to have met you
  17. I am glad to have met you
  18. I am glad that I met you
  19. Happy to meet you
  20. I am happy to meet you
  21. Happy to have met you
  22. I am happy to have met you
  23. Happy to make your acquaintance
  24. I am happy to make your acquaintance
  25. Pleasure to meet you
  26. It is a pleasure to meet you
  27. Pleasure to make your acquaintance
  28. It is a pleasure to make your acquaintance
  29. Charmed
  30. Welcome to (the group, the company, our family, etc...


  Claro, existe uma certa sistematicidade. Ou seja, você pode ver semelhanças entre elas e ensinar as formas próximas juntas. Mas, e este é o ponto importante, se um profissional disser que existe apenas uma forma de se dizer algo, muitos alunos acreditarão e/ou usarão o que foi dito como desculpa para não aprender.

  Outro exemplo seria a ideia de que o verbo é mais simples no inglês. De fato a conjugação é mais simplificada, mas daí vem dois problemas que alguns professores deixam de lado.

  O primeiro é a relação sintática entre sujeito e verbo: como existem menos conjugações, apenas duas pessoas costumam ser omitidas nas formação de frases, a primeira e a terceira singular. Por quê? Provavelmente pela terceira ser marcada na conjugação e pela primeira ser inferida quando não há uma especificação. Esta relação ainda é mais complexa do que no Português, não sendo omitidas as primeiras pessoas sempre (em algumas situações ocorrendo mais, mas na maioria delas não havendo omissão) e havendo mais terceiras pessoas (além dos pronomes feminino e masculino, existem os pronomes neutros).

  O segundo é que costumam ser ignorados detalhes importantes da construção da frase verbal. O Inglês se vale de vários verbos com funções auxiliares (sejam estas as suas únicas funções ou não) para passar toda uma gama de possibilidades verbais. Quando o professor diz ao aluno que o uso do verbo é mais simples, portanto, ele só pode estar falando da conjugação, pois em termos de uso de verbos auxiliares, advérbios, preposições e especificidade de complementos, o Inglês pode ser considerado tão difícil quanto o Português ou mais. Esse é provavelmente o motivo da existência de certos falsos cognatos (dos quais pretendo falar em outro texto) como o comumente usado "give for", usado no sentido de "give to" embora tenha outro significado.

  Conclusão? É melhor se ter em mente que cada língua tem suas facilidades e dificuldades, todas somando a mesma dificuldade. Professores que tenham ideias de como se valer das partes "mais fáceis" devem considerar como fazê-los, pois podem sair daí boas práticas, mas devem ter cuidado para manter-se baseados nas evidências.